Porque é importante falar sobre Coronavírus — e outras coisas — localmente

Nina Weingrill
2 min readApr 8, 2020

De que adianta mandar lavar as mãos se em algumas casas mal chega água? A prioridade de quem mora no Leblon durante o COVID-16 é radicalmente diferente de quem mora no Complexo da Maré. Ou numa cidade do interior do país, por exemplo. E agora, mais do que nunca, está clara a importância de termos gente produzindo informação que esteja a serviço daqueles que estão no seu entorno. A verdade é que pouco importa o que diz o presidente — especialmente se você mora no Brasil. Sua comunidade sabe qual é a história que precisa ser contada.

Membros do Coletivo Papo Reto colocam cartazes no Morro do Alemão, RJ, para alertar a população. Crédito: Bento Fábio

Estamos vendo coletivos de comunicação e jornalismo atuando em periferias, pequenas organizações de bairro que possuem um jornal local, condomínios com seus sistemas de informação via Whatsapp e grupos comunitários organizados no Facebook se mobilizando para informar moradores sobre o coronavírus. Cada qual com sua metodologia de produzir e distribuir informações que ajudam a imediatamente priorizar as necessidades: de acesso à saneamento, passando por alimentação a itens básicos de higiene.

E se, para além do coronavírus, essa fosse a nossa realidade? Pessoas organizadas em suas comunidade para fiscalizar poderes (públicos e privados) e auxiliar nas necessidades básicas de informação dos cidadãos?

O manual criado por Simon Galperin, fundador do Community Information Cooperative e responsável pelo guia “Como lançar um Distrito de Informação”, que traduzi e apresento a seguir, tem dois objetivos: apoiar o desenvolvimento de novas iniciativas de comunicação nos territórios e, principalmente, provocar reflexões de como “Distritos de Informação” podem se transformar em uma política pública.

Temos mais de 37 milhões de brasileiros vivendo em desertos de notícia. Aqueles que sobrevivem, beiram a extinção: 331 veículos jornalísticos encerraram suas atividades desde 2011 no Brasil — grande parte deles por questões de financiamento. Outros tantos são financiados por políticos e seus partidos e não representam os interesses de suas comunidades.

“Como lançar um Distrito de Informação” nos desafia a imaginar como responder à crise de notícias local no Brasil pensando em maneiras de democratizar as informações para além do acesso. Por meio de Distritos de Informação, as pessoas poderiam financiar a produção de notícias usando orçamentos participativos e públicos. Ou desempenhar um papel na coleta de notícias e na tomada de decisões. E ainda criar ecossistemas locais de informação que atendam às suas necessidades primeiro.

Não é uma ilusão distante (falo sobre isso neste texto) e nem necessariamente uma novidade (os mídia-livristas levantam há tempos essa bandeira).

Mas ao compilar diferentes ferramentas e metodologias, Simon nos faz pensar em como colocar pequenos ecossistemas de informação em prática, desenhando um contexto que agrupa, categoriza, dá forma e nome a essas iniciativas. Espero que esse material possa inspirar novas ações em torno desse tema. Leia aqui a versão traduzida.

--

--

Nina Weingrill

jornalista e co-fundadora @enoisconteudo | Escola de Jornalismo | #RedaçãoAberta. bolsista @ICFJ . pesquisa ecossistemas de informação local.